15 setembro 2002

gente de Deus

Tá bom... todo mundo se curva diante de Cidade de Deus e não sou eu, logo eu, que vou ser diferente. Meus conhecimentos cinematográficos se resumem a ir no cinema, e muito, e passar aquele momento dentro do filme. Esquecer da realidade, do que fiz antes e terei para fazer depois da sessão. Não sei muito de técnicas e padrões de direção... mas sei que às vezes o filme não vale o ingresso. Não é o caso de Cidade de Deus.

Esquecer da realidade num filme como Cidade de Deus é muito difícil - para não dizer impossível. Me senti do tamanho de uma pulga e com o cérebro de uma ameba naquela dura cena em que uma criança é obrigada a matar a outra enquanto uma terceira chora desesperadamente. Meus olhos denunciaram o que meu coração apertado sentiu naquele momento. Até então, o filme me parecia uma aventura bacana. Fiquei chocada e depois de me virar na cadeira várias vezes, aquela cena me paralizou. Não me mexi mais até o final. Que horror!!! Que barbaridade mesmo... como podemos nos auto-denominar seres dotados de inteligência diante disso? Que brutalidade é essa que deve se repetir com mais freqüência do que possamos imaginar nas ruelas e becos das favelas? Onde está Deus numa hora dessas?

Bela estética vídeo clip.. bela luz, belos ângulos.. e boas piadas. Mas para falar dessas coisas, os críticos estão por toda parte, em todos os jornais e revistas que dedicaram espaços gigantescos (merecidos) ao filme de Fernando Meirelles. A única coisa que não consigo entender mesmo: depois de tanto trabalho fazendo o filme, convivência com os atores, diálogos muito reais, enfim, de viver um pouco o clima sombrio da guerra do tráfico, da pobreza, da miséria, da corrupção da polícia, da tristeza que é a vida daquela gente, como pode o diretor apoiar o candidato José Serra?????? Por favor, me digam que estou enganada e não vi isso na campanha do tucano careca... por favor!

Sem comentários: